No carnaval de Resende, em 1977, desfilaram as escolas de samba Alto dos Passos, Unidos do Manejo, Campos Elíseos, Unidos da Nova Liberdade e os blocos Castelo Branco, do Paraíso e Unidos do Lavapés.
Na preparação para aquele carnaval, o pesquisador Claudionor Rosa apresentou aos diretores da Campos Elíseos, como sugestão, o enredo “O Ouro Verde nas Terras da Velha Província”, alusivo ao ciclo cafeeiro do município, tendo como um dos destaques “Maria Benedita, a Rainha do Café”, cujo histórico havia pesquisado no trabalho Resende, centro dispersor do café no Vale do Paraíba, da historiadora e museóloga Solange Godoy.
Outra sugestão, com o mesmo objetivo e também sobre a história do município, foi apresentada pelo coronel Rubens Rosadas, professor da Academia Militar das Agulhs Negras e incentivador de eventos ligados ao folclore brasileiro. O tema propunha uma viagem pelos fatos e pessoas que fizeram a história do local, cabendo também um destaque para a “rainha do café”. A sua idéia venceu, mas por motivos pessoais ele não pode colaborar com a diretoria na montagem do carnaval, cabendo a Claudionor e outros voluntários a tarefa de botar a escola na rua para o desfile.
No tocante a Maria Benedita, o tema escolhido para representa-la foi as festivas viagens que fazia de suas fazendas até o seu palacete em Resende. O texto histórico que serviu de base dizia:
“...A abastada fazendeira, quando regressava à cidade da sua importante Fazenda Babylonia, despertava a atenção e curiosidade pela vistosa ‘liteira’ que levava, acompanhada de grande número de mucamas e de mulatas faceiras, em vestimentas aparatosas, levando enroscados ao pescoço, colares e contas multicolores...Era a nota de elegância e delícia, esse cortejo feminil, gostosamente comentado pelos jornais...”
O samba-enredo, composto por integrantes da escola, numa das estrofes assim se referia à nossa personagem: “Maria Benedita/ Abastada fazendeira/ E suas mucamas formosas/ Luxo... beleza... graça.../ É Campos Elíseos novamente / Balançando a velha praça.”
No desenvolvimento do enredo, tentou-se construir uma liteira, idéia desprezada pelo fato de não se encontrar nenhum componente da escola disposto a carregá-la. A outra opção seria usar cavalos, mas o regulamento proibia o uso de animais vivos no desfile.
Para representar Maria Benedita foi convidada D. Maria José Veloso, conhecida rainha de alas de baianas de escolas de samba e blocos, sambista desde os tempos dos cordões e do rancho “Chuveiro de Prata”, raízes do carnaval de rua de Resende.
Bem fantasiada como sempre, ela teve por séqüito vistosas mucamas e uma ala alusiva à Banda de Escravos. A praça Dr. Oliveira Botelho, ou Praça da Matriz, local do desfile, ficou apinhada de gente e a escola foi muito aplaudida.
D. Maria José faleceu em 04 de dezembro de 1994.
DO LIVRO: “MULHERES FLUMINENSES”, editado pelo Conselho Estadual dos Direitos da Mulher, do Governo do Estado do Rio de Janeiro.
Legenda da Foto: Casarão da Fazenda Babylônia de propriedade de Maria Benedita, esse casarão era usado para os ensaios da Banda de Escravos da "Rainha do Café".
“A Rainha do Café” Maria Benedita é seu humilde nome, Em seu tempo brilhou, figura nos anais Da centenária terra, ganhando o cognome Que fez Resende não esquece-la jamais. Foi rica fazendeira, vulto que não some, Testemunho que dão os nossos ancestrais, Nunca um escravo seu penou ou passou fome, Tudo consta sem seus registros informais. Terna e bela que fora, além de poderosa, Tornou-se naquela época, muito famosa, Destaque social deu-lhe e cultural, até. Fez entrar a cidade do Brasil na História, Acrescentou-lhe páginas de imensa glória, É única, sem par, Rainha do Café!...
Wilson Montemór
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