terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Maria Benedita Gonçalves Martins - A Rainha do Café de Resende - Parte II

Foto da Capa do CD Vale dos Tambores - Vol. 2
A Banda de Escravos da Rainha do Café
Maria Benedita destacava-se dos outros produtores de muitas maneiras. Com os escravos, por exemplo. A maioria dos fazendeiros se recusava a pagar a taxa de enterro para seus escravos. Já Maria Benedita fazia questão de paga-la, para que o escravo não fosse enterrado sem caixão, e ainda mandava costurar a roupa póstuma, que variava de modelo e de cor de acordo com o sexo ou a idade. Na época da colheita do café – de abril até setembro ou outubro, quando começasse a chover mais forte – os escravos eram muito exigidos no trabalho. Benedita percorria previamente todas as fazendas, os reunia e lhes falava, animando-os. E quando a colheita findava, ela mandava que se dessem festas, tanto nas casas-grandes quanto nas senzalas. Caprichava na distribuição de comida, liberava o fumo de rolo e fazia questão de não deixar qualquer feitor controlando a festa dos escravos pois dizia que eles próprios saberiam conduzir-se sem confusão. Quem brigasse – criasse “quizumba” – recebia um dos castigos alternativos de Benedita, mais brandos do que o açoite, como por exemplo trabalhar exposto ao sol a pino um ou mais dias sem beber uma gota de água durante o dia. E essas atitudes de Benedita devem ser vistas no contexto de uma época em que o café, por ser a maior riqueza do Império, exigia demais da mão de obra escrava, tanto que há registros de que muitos fazendeiros de outras regiões, quando se desentendiam com seus escravos, os ameaçavam de serem “vendidos para o café”. Era grande a violência com que eram tratados, e, assim como em Pernambuco houve a resistência do Quilombo dos Palmares, aqui no Vale do Paraíba os escravos se amotinavam nas matas de Valença, sob a liderança do negro Manoel Congo, que matou seu senhor e outras pessoas da família, na aceitando o cativeiro. Os autores do livro em que baseia esta matéria ressaltam que assim como a história registrou muito pouco sobre como os negros se articulavam e mantinham contato com o núcleo de Manoel Congo, também desinteressou-se sobre as bandas de música de escravos, “cujos reflexos, apesar dos anos decorridos, ainda são sentidos na musica popular brasileira, notadamente o chorinho”. José Ramos Tinhorão, historiador da música brasileira, afirma: “a história do choro carioca, cuja origem remonta às bandas de escravos das fazendas fluminenses(...)” Aí também destaca-se Maria Benedita, cuja banda ficou famosa. Se por um lado ela exigia que os componentes de sua banda aprendessem música e lessem partituras – e não apenas tocassem de ouvido, como acontecia nas outras bandas – por outro, nos intervalos das apresentações cerca de 10 músicos seus se apresentavam tirando som de pentes cobertos com papel de seda, brincadeira infantil que eles levavam a sério e na qual eram incentivados por Benedita.Contrariando a maioria dos proprietários de escravos, Benedita era contra a lei de 1835, que instituía a pena de morte no Brasil apenas para escravos que matassem seu senhor e membros de sua família. Segundo notícia publicada no jornal “Itatiaia” em março de 1887, o escravo Manoel, propriedade de Maria Benedita, acusado de haver matado o feitor da fazenda Babilônia, teve como seu curador no julgamento o Dr. Alfredo Whately e foi condenado a pena das galés perpétuas. Em plena efervescência das campanhas pró e contra a abolição a atitude de defender réus escravos recebia críticas dos fazendeiros. Quando o jovem advogado abolicionista Dr. Whately retornou formado para Resende, foi Benedita quem promoveu em seu “palacete” da praça da Matriz uma calorosa recepção a ele.
DO LIVRO: “MULHERES FLUMINENSES”, editado pelo Conselho Estadual dos Direitos da Mulher, do Governo do Estado do Rio de Janeiro.

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