sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Maria Benedita Gonçalves Martins - O Adeus...

A grande festa de 1877, com sorvete, flauta de Joaquim Antonio Callado e orquestra, ao que tudo indica, foi a última a que Maria Benedita emprestou o seu brilho pessoal. Quatro anos depois ela faleceu, vítima de “insulto apopléctico”, uma complicação cardíaca, conforme a notícia do Jornal Itatiaya de abril de 1881: “Passamento: Sepultou-se no domingo último, o cadáver da Exma. Senhora D. Maria Benedita Gonçalves Martins, abastada proprietária, e fazendeira entre nós. Sucumbiu vitima de um insulto apopléctico e em avançada idade. Deixou vivos três filhos, importantes fazendeiros. Era uma senhora digna de todas as considerações sociais, pelas suas virtudes, e sobretudo pela sua alma generosa, sempre pronta em trazer socorro ao pobre e ao desamparado da fortuna. Era esmoler em extremo e quer nas fazendas, quer na cidade, era considerada como a alma benfazeja, a mãe da pobreza. Mãe exemplar, sacrificava-se pelo amor dos filhos, e de coração nobre e generoso estendia sempre a mão benfazeja, procurando auxiliar com donativos fora do comum a quantos necessitados imploravam a sua proteção. À cidade prestou benefícios reais, contribuindo sempre com seus capitais para os seus melhoramentos materiais, e à Igreja sempre a sua mão foi farta para dar-lhe esmola. Quantos a conheceram de perto, sentem hoje sua falta. Pranteam-na, pois, com justa razão seus filhos, seus amigos, à pobreza, até seus escravos. A terra lhe seja leve, e abram-se-lhe de par em par as portas douradas a bem-aventurança.” A família pôs anúncio para a missa do sétimo dia, com o título “Orai por ela”: “Tito Lívio Martins e sua esposa, Antonio Augusto Martins, José Ribeiro de Andrade e esposa, agradecem cordialmente a todas as pessoas que se dignaram a acompanhar ao seu último jazigo a sua muito prezada e sempre chorada mãe e sogra D. Maria Benedita Gonçalves Martins, e de novo rogam a seus parentes e às pessoas da sua amizade, e às da finada, o caridoso obséquio de assistirem à missa do 7o dia, que será celebrada hoje, sábado, 23 do corrente, ás 10 horas da manhã, na Igreja Matriz, e por mais este ato de religião desde já se confessam gratos.” No livro de Registro de Sepultamentos, ano de 1881, guardado no Arquivo Histórico do Município de Resende, pode-se ler: “Sepultou-se Dona Maria Benedita Gonçalves Martins, branca, com 72 anos, viúva do falecido Joaquim Martins, natural de Resende, faleceu ontem à 1 hora da madrugada de derramamento cerebral. Atestado do médico Dr. Gustavo Gomes Jardim. Sepultada no subterrâneo de sua família, na segunda campa, do fundo direito, registro número 3991. foi sepultada em caixão, valor da taxa paga 5$000.”
Foto: Mausoléu de Maria Benedita Gonçalves Martins, primeiro túmulo de mármore construído no Cemitério Senhor dos Passos, no municipío de Resende, a "Rainha do Café" mandou construi-lo para servir de última morada de seu marido Joaquim Martins.
É importante ressaltar que após a construção desse mausoléu impulsionou-se o mercado de mármore e marmoristas que construíram outros túmulos não só no cemitério local como em outros da região.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Maria Benedita Gonçalves Martins - Parte IV

Benedita ajudou ainda, subscrevendo ações, à construção do teatro Santa Rita, no largo da igreja da Matriz, em 1876. Com a inauguração da estrada de ferro D. Pedro II, ligando Resende ao Rio de Janeiro e depois São Paulo, a vida cultural da cidade ganhou muito, movimentando o teatro, pois as companhias artísticas não precisavam mais fazer lentas e penosas viagens de carroça. O Santa Rita foi usado também para uma iniciativa comum na época, que eram os espetáculos filantrópicos para acudir epidemias ou obras sociais. Durante muito tempo Maria Benedita esteve à frente dessas empreitadas. O Santa Rita foi demolido em 1880, construindo-se em seu lugar o Cine Teatro Central demolido já no século XX, na década de 60. A festa mais bonita e concorrida realizada em Resende no século XIX era a Festa do Espírito Santo, celebrada no sétimo domingo depois da Páscoa, com caráter religioso e popular. Um dos destaques da festa era a cavalhada, tradição medieval que herdamos de Portugal. A cavalhada só começava quando chegava Maria Benedita acompanhada do filho Tito Lívio que, junto com a mãe foi também o criador de um jóquei clube em Resende, onde hoje funciona a velha rodoviária Augusto de Carvalho. A idéia do hipódromo era também para estimular a criação de cavalos de raça. E para terminar, citamos um trecho do historiador resendense Itamar Bopp descrevendo uma festa de Maria Benedita após a cavalhada do Espírito Santo: “Em 1877, terminada a Festa do Espírito Santo, a mais magnificente das festas que se celebravam na cidade, funcionavam três bandas de música de propriedade da fazenda; duas bandas ficavam no Palacete, a tocar na festa de gala, músicas deliciosas, nos salões luxuosamente decorados. As toiletes da moda, das damas, eram das imensas riquezas, numa profusão estonteante de sedas e veludos, de jóias e perfume... Era ali o centro de concentração das rodas elegantes. Ao final da festança, o refinamento do banquete servido em esplêndidas baixelas de prata e ouro e em porcelana de Sévres, com as mais finas iguarias. À sobremesa, como sensacional novidade, foi servido, pela primeira vez, taças de sorvete...” Como se vê, até o sorvete chegou em Resende através dessa filha de índia puri com português, essa mistura que, antes ainda da chegada dos negros, já formava o embrião do que é hoje o povo brasileiro. Maria Benedita faleceu em 1881, vítima de “insulto apoplético”. DO LIVRO: “MULHERES FLUMINENSES”, editado pelo Conselho Estadual dos Direitos da Mulher, do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Crédito da Gravura: Pintura de Gisele Ferreira

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Maria Benedita Gonçalves Martins - A Rainha do Café de Resende - Parte III

A MADRINHA DOS ESTUDANTES Ainda segundo o livro “Mulheres Fluminenses”, Benedita “organizava campanhas, festas, quermesses e bingos, destinando o dinheiro arrecadado à causa do ensino. Doou material, principalmente madeira, emprestou escravos para reformas e construções de salas de aula. Buscou apoio, cobrou soluções de autoridades locais e da Província. Hospedou. Alimentou e até pagou os salários dos professores”. Resende carecia muito de médicos, e há registros de que Benedita ajudava financeiramente muitos dos que iam se formar como médicos e advogados no Rio, em São Paulo. Há também casos de seminaristas irem com sua ajuda para Ouro Preto, Diamantina, Mariana e outros seminários de Minas. Quando retornavam, eram recebidos com festas no palacete. Benedita entrou também em polêmica com a igreja e os católicos porque defendia a tese de alguns médicos europeus e brasileiros que achavam errado enterrar os mortos no interior e arredores das igrejas. Ela defendia a construção de um cemitério longe da zona habitada da cidade, o que acabou conseguindo, em 1832. Colaborou também decisivamente para a construção da Santa Casa de Misericórdia, em 1835, que ainda hoje funciona em Resende. Certa vez, acusou a Santa Casa de não querer assistir os presos que cumpriam pena na cadeia local.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Maria Benedita Gonçalves Martins - A Rainha do Café de Resende - Parte II

Foto da Capa do CD Vale dos Tambores - Vol. 2
A Banda de Escravos da Rainha do Café
Maria Benedita destacava-se dos outros produtores de muitas maneiras. Com os escravos, por exemplo. A maioria dos fazendeiros se recusava a pagar a taxa de enterro para seus escravos. Já Maria Benedita fazia questão de paga-la, para que o escravo não fosse enterrado sem caixão, e ainda mandava costurar a roupa póstuma, que variava de modelo e de cor de acordo com o sexo ou a idade. Na época da colheita do café – de abril até setembro ou outubro, quando começasse a chover mais forte – os escravos eram muito exigidos no trabalho. Benedita percorria previamente todas as fazendas, os reunia e lhes falava, animando-os. E quando a colheita findava, ela mandava que se dessem festas, tanto nas casas-grandes quanto nas senzalas. Caprichava na distribuição de comida, liberava o fumo de rolo e fazia questão de não deixar qualquer feitor controlando a festa dos escravos pois dizia que eles próprios saberiam conduzir-se sem confusão. Quem brigasse – criasse “quizumba” – recebia um dos castigos alternativos de Benedita, mais brandos do que o açoite, como por exemplo trabalhar exposto ao sol a pino um ou mais dias sem beber uma gota de água durante o dia. E essas atitudes de Benedita devem ser vistas no contexto de uma época em que o café, por ser a maior riqueza do Império, exigia demais da mão de obra escrava, tanto que há registros de que muitos fazendeiros de outras regiões, quando se desentendiam com seus escravos, os ameaçavam de serem “vendidos para o café”. Era grande a violência com que eram tratados, e, assim como em Pernambuco houve a resistência do Quilombo dos Palmares, aqui no Vale do Paraíba os escravos se amotinavam nas matas de Valença, sob a liderança do negro Manoel Congo, que matou seu senhor e outras pessoas da família, na aceitando o cativeiro. Os autores do livro em que baseia esta matéria ressaltam que assim como a história registrou muito pouco sobre como os negros se articulavam e mantinham contato com o núcleo de Manoel Congo, também desinteressou-se sobre as bandas de música de escravos, “cujos reflexos, apesar dos anos decorridos, ainda são sentidos na musica popular brasileira, notadamente o chorinho”. José Ramos Tinhorão, historiador da música brasileira, afirma: “a história do choro carioca, cuja origem remonta às bandas de escravos das fazendas fluminenses(...)” Aí também destaca-se Maria Benedita, cuja banda ficou famosa. Se por um lado ela exigia que os componentes de sua banda aprendessem música e lessem partituras – e não apenas tocassem de ouvido, como acontecia nas outras bandas – por outro, nos intervalos das apresentações cerca de 10 músicos seus se apresentavam tirando som de pentes cobertos com papel de seda, brincadeira infantil que eles levavam a sério e na qual eram incentivados por Benedita.Contrariando a maioria dos proprietários de escravos, Benedita era contra a lei de 1835, que instituía a pena de morte no Brasil apenas para escravos que matassem seu senhor e membros de sua família. Segundo notícia publicada no jornal “Itatiaia” em março de 1887, o escravo Manoel, propriedade de Maria Benedita, acusado de haver matado o feitor da fazenda Babilônia, teve como seu curador no julgamento o Dr. Alfredo Whately e foi condenado a pena das galés perpétuas. Em plena efervescência das campanhas pró e contra a abolição a atitude de defender réus escravos recebia críticas dos fazendeiros. Quando o jovem advogado abolicionista Dr. Whately retornou formado para Resende, foi Benedita quem promoveu em seu “palacete” da praça da Matriz uma calorosa recepção a ele.
DO LIVRO: “MULHERES FLUMINENSES”, editado pelo Conselho Estadual dos Direitos da Mulher, do Governo do Estado do Rio de Janeiro.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

MARIA BENEDITA - A Rainha do Café - Bicentenário

O primeiro casarão da Vila de Resende, fruto da riqueza do café, foi construído no Largo da Matriz.
- Bicentenário - Maria Benedita Gonçalves Martins ( 1809 – 1881) A RAINHA DO CAFÉ EM RESENDE Maria Benedita nasceu em 1809, um ano após a chegada de Dom João ao Brasil, filha do comendador Manoel Gonçalves Martins e da índia puri que recebera o nome de Ana Maria de Jesus para adequar-se à lei canônica vigente que regulava o casamento entre brancos e índias. Seu pai era da vila de Viana do Castelo, em Portugal, e veio para o Brasil a procura de riqueza. Apesar do título de comendador, era analfabeto e usava um carimbo de ouro para apor a sua assinatura, razão pela qual era chamado “Manoel Carimbo”. Manoel conduzia tropas de mulas carregadas de café para cidades mineiras, em viagens arriscadas e longas. Na volta, trazia objetos em ouro e pedras preciosas, conseguindo grande lucro. Era destemido, tinha visão e ficou rico. Atribui-se a ele uma grande habilidade para lidar com os índios, o que garantia o sucesso das viagens perigosas e facilitou seu casamento com uma índia puri (tribo nômade que primeiro habitou Resende). Manoel comprou várias fazendas e tinha prestígio também porque se dedicava à causa pública. Contribuiu decisivamente para a construção da Igreja do Rosário, entre 1825 e 1827, e fundou a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário. Maria Benedita herdou tanto a fortuna quanto o espírito público do pai, no que foi ajudada também pelo marido, que era figura influente na vida social e política do município, com quem se casou aos 15 anos. Em 1848. Manoel Carimbo construiu o primeiro sobrado da cidade, na Praça da Matriz, para ser a sua residência. O sobrado existe ainda hoje, e na segunda metade do século XIX ficou conhecido como o Palacete da Rainha do Café, entrando para a história pelas festas exuberantes que Maria Benedita promovia ali, principalmente depois da morte do marido. De forma que Maria Benedita se viu, ainda em idade de mulher ativa, proprietária de diversas fazendas, entre elas – e essas com documentação comprovada – A Fazenda Babilônia - resindência de Maria Benedita, a da Serra, colada à fazenda Penedo na direção de São Paulo e do Tanque, do outro lado do rio Paraíba, sendo que essas duas fazendas eram ligadas pelo luxo de uma linha telefônica.

DO LIVRO: “MULHERES FLUMINENSES”, editado pelo Conselho Estadual dos Direitos da Mulher, do Governo do Estado do Rio de Janeiro.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Capela Curada, seu Patrimônio e Elevação a Freguesia

Imagem de Nossa Senhora da Conceição
Padroeira de Resende desde 12 de maio de 1747, oriunda de Portugal, peça do Altar Portátil do
Capelão da Expedição de Simão da Cunha Gago, Padre Felipe Teixeira Pinto.
Em virtude da citada Provisão de 12 de maio de 1747, registrada a folhas 24 de um livro existente no cartório eclesiástico de Resende, e obtida a requerimento do Padre Felippe Teixeira Pinto e do capitão Antonio Correa da Fonseca, com outros moradores, sendo bispo D. Frei Antonio do Desterro, erigiu-se a capela de Nossa Senhora da Conceição, já com a prerrogativa de curato, desde a fundação do primitivo oratório, tendo como capelão o mesmo padre Felipe – até ser elevada a freguesia. Teve assento a igreja no terreno que fica hoje entre a Matriz de Resende e o prédio particular que faz canto com a Rua do Ouvidor; teve sua frente voltada para oeste e ficou limitada, por enquanto, à capela-mór, com seis metros e dezesseis centímetros de fundo por quatro metros e quarenta de largura. Construída de pedra e barro, foi, ao depois, acrescentada, pelo padre Henrique José de Carvalho – seu segundo pároco – que lhe fez levantar o corpo, ainda em proporções acanhadas, até que veio a ficar com mais cinco e meio metros de comprimento, obra feita com paredes de pau-a-pique, em 1795 ou 1796, por influência do vigário encomendado Antonio de Mattos Nóbrega de Andrade, com a ajuda dos fregueses. Sobre grossos esteios de braúna, foram colocados os sinos, até então suspensos em forquilhas. E assim permaneceu, por longos anos, aquele templo modesto, com apenas dois altares laterais – de São Sebastião e da Senhora das Dores – além do altar-mór onde se conservou o Santíssimo, até que, em 1831, começou a servir a nova matriz, na qual ainda hoje existem as imagens transladadas daquela primeira igreja. (1) O seu patrimônio constituiu-se por doação feita pelos sobreditos padre Felippe e capitão Antonio Correa da Fonseca, do terreno que possuíam dentro do curato, e por escritura particular firmada por eles a 27 de outubro de 1749, lançada, segundo Pizarro, a folhas 409 do Livro de Notas de 1762 a 1765 tabelião Bento Pinto da Fonseca. Em livro existente no cartório eclesiástico, desta cidade, destinado aos capítulos de visita da igreja, deparamos, há anos, com o seguinte assentamentos de punho do padre Henrique José de Carvalho, dando à página 181 uma relação dos bens pertencentes à igreja: “À mesma Senhora da Conceição do Campo Alegre pertence todo o território deste arraial, por doação que lhe fizeram os defuntos padre Felippe Teixeira Pinto e Antonio Correa da Fonseca, como senhores que eram, das ditas terras; o que melhor consta de seus testamentos.” É de público interesse, e principal conveniência de administração da confraria respectiva, examinar esses documentos, a fim de se verificar, pelos limites assinados ao terreno doado à padroeira, se parte dele é usufruída por particulares sem pagarem o devido foro ou arrendamento. Antes de criado o notariato com a Vila de Resende, em 1801, os contratos eram celebrados perante o tabelião do Rio de Janeiro, onde se deve achar o lançamento daquela escritura particular de doação no supracitado livro de notas. Enquanto aos testamentos dos doadores, confirmando essa escritura, é de crer que fossem registrados pelo pároco do lugar que, segundo a lei, podia abri-los, remetendo os originais às justiças do termo. Isso deve constar de algum livro de registros existentes no cartório eclesiástico desta cidade. Existe ainda outra fonte para essa pesquisa: os autos em que foi processada a licença para a ereção da capela, nos quais deviam os impetrantes, os próprios doadores, ter juntado traslado daquela escritura de patrimônio, sem o que não faria a bênção da igreja, nem ela podia funcionar. Esta cláusula, como é de estilo, vem expressa na citada Provisão de 1747, que diz: “E, depois de ereta a igreja, bem preparada e decentemente ornada, recorrerão a nós com a escritura de dote, para a mandarmos visitar e benzer; juntando-se, além da escritura, a petição por onde concedemos a dita ereção, que fica autuada na nossa câmara.” Fragmentos do Livro: DO DESCOBRIMENTO DO CAMPO ALEGRE ATÉ A CRIAÇÃO DA VILA DE RESENDE. 2a Edição; Autor: Dr. João de Azevedo Carneiro Maia.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

DESCOBRIMENTO DA PARAÍBA NOVA - PARTE II

Não se sabe quais foram os mais sertanejos que vieram com o coronel Simão e o padre Felipe, exceto Máximo Barbosa, de que adiante se faz menção; mas é de crer que eles foram em parte mineiros e em parte paulistas; aqueles, porque era natural terem alguns acompanhado, na jornada, o seu capelão, e estes porque – afirma Milliet, em seu Diccionario Histórico e Geographico – Simão da Cunha viesse a estas paragens com o ânimo oculto de explorar ouro, abrindo talvez caminho para o seu extravio pela Serra da Mantiqueira, e disfarçando-se com a permissão de conquistar os índios. A memória desse varão merece os nossos respeitos, para não consentirmos que sobre ela se grave a mácula de contrabandista. Bastam os seguintes argumentos para repelir essa suspeita: afirma, antes de tudo, o citado Milliet, que Simão da Cunha obtivera a competente autorização do governador de São Paulo, para descobrir minas de ouro, ao mesmo tempo em que foi licenciado para a conquista do gentio. Sendo certo que vários caminhos se haviam aberto ocultamente pela Mantiqueira, a fim de extraviar-se o ouro que devia pagar o quinto transitando pela estrada real, a ordem de 9 de abril de 1745 proibiu o uso do caminho que, das minas da Aiuruoca, tinham aberto Antonio Gonçalves de Carvalho e seus sócios, para o Rio de Janeiro e costas do mar, mandando aviso de 22 de janeiro de 1756 observar a lei de 27 de outubro de 1733, que havia já proibido abertura de novas picadas. Não consta que iguais medidas de repressão fossem referentes ao caminho aberto por Simão da Cunha através da Mantiqueira, no ano de 1744 e, por conseguinte, antes da citada ordem de 9 de abril. Também não consta que da Paraíba Nova se encontrassem, nesse tempo, vestígios de comunicação para o Rio de Janeiro ou qualquer ponto do litoral, por onde o ouro se pudesse desviar; e nem se fala em picadas ocultas de saída daquele sítio onde a gente de Simão, em vez de homiziar-se como faziam os contrabandistas, pelo contrário, estabeleceu domicílio a descoberto e isento de perseguições. Outra conjectura odiosa, que por si mesma se desvanece, é que o referido coronel se houvesse passado de São Paulo para Minas, talvez para cumprir a pena de degredo por crime que houvesse cometido, segundo imagina o autor do Diccionário Geographico sem aduzir fatos demonstrativos, e pela única razão de ser expediente usado então pelos criminosos, a fim de se lhes perdoar a pena, solicitarem permissão para irem à descoberta de minas, ou trazerem os índios à civilização; o que nada prova, desde que muitos eram os licenciados nesse tempo para tais empresas, sem que fossem criminosos. E, a ser o dito coronel degradado de São Paulo para Minas Gerais, não é crível que, afrontando as penas da ordenação do Liv. 5o T 143 a respeito dos que sabiam do lugar do degredo, viesse ele a residir em território do Rio de Janeiro, onde já se disse que, com o padre Felipe e outros, requereu licença para fundar uma capela, monstrando-se a descoberto em um sítio como o da Paraíba Nova, limítrofe de três capitanias, e sob a ação vigilante de seus governantes. Também não se sabe supor que viesse degradado de Portugal, visto que dos meados do século XVII em diante, a instância dos moradores do Brasil, já não havia quase degredos para esta parte do reino – o que foi afinal, expressamente vedado pelo Decreto de 28 de março de 1722. E, quando se pretenda que ele em São Paulo ou Minas Gerais, mas em alguma fronteira interna do Mato Grosso ou do Amazonas, para onde se mandou residirem todos os degradados anteriormente à data daquela proibição, a fim de povoarem esses lugares centrais, abrindo-se-lhes praças nos corpos de linha. Mais verossímil é, portanto, a asseveração de Pizarro, atribuindo à esperança de melhorar de fortuna o fato de retirar-se o dito coronel de São Paulo para a capitania de Minas. Em todo o caso, o que não entra em dúvida é que, já pela elevada patente militar que o distinguia, já por lhe ter o governador de São Paulo confiado os serviços que ficam referidos, Simão da Cunha devia ser homem de importância e, porventura, relacionado com alguma família paulista das mais distintas daquele tempo. Feito essa reparação devida à memória do nosso povoador primitivo e tornado à história de sua jornada pelo sertão, onde com seus companheiros de arrojo teve de afrontar o insulto e das feras bravias, devassando as brenhas da Mantiqueira, pena é que na obra de Pizarro não venha o roteiro dessa expedição, naturalmente cheia de aventuras e de peripécias curiosas, além das riquezas de todo o gênero que deviam patentear-se aos olhos desses exploradores ousados. Essa história, diz ele, tinha-a em manuscrito, narrada por Máximo Barbosa, homem pardo, de 87 anos, residente na aldeia de São Luiz Beltrão e que fora um dos companheiros de Simão da Cunha, na Jornada que os trouxe à Paraíba Nova, roteiro que lhe parecia digno de imprimir-se. Do mesmo modo informante colheu ele muitas outras notícias curiosas acerca da fundação desta freguesia, quando em 1800, veio visitar ordinariamente a igreja paroquial respectiva. (1) (1) Grande parte do que deixamos escrito neste artigo a propósito do descobrimento da Paraíba Nova, extraímos – com algumas reservas- das memórias históricas do monsenhor José de Souza Azevedo Pizarro e Araújo, que contém minuciosas notícias sobre o Rio de Janeiro e províncias anexas à jurisdição do vice-rei do Brasil. Do livro: DO DESCOBRIMENTO DO CAMPO ALEGRE ATÉ A CRIAÇÃO DA VILA DE RESENDE. 2A EDIÇÃO – João de Azevedo Carneiro Maia.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

DESCOBRIMENTO DA PARAÍBA NOVA - Parte I

No ano de 1747, em que a primitiva capela de Nossa Senhora da Conceição do Campo Alegre foi provida em curato, o seu território, assim como toda a zona de serra acima nesta província até os seus limites com as de São Paulo e Minas Gerais, faziam parteda circunscrição civil da cidade do Rio de Janeiro; e nessa imensa região inculta, e ocupada em grande parte por índios estanciados em diversos pontos, existiam apenas algumas capelas e curatos, sendo dos mais antigos o do Paraíba do Sul, criado em 1719, e o de São João Marcos, em 1742. Entretanto, dos municípios que dentro dessa área extentisíssima se foram, ao depois, constituindo, o de Resende ocupa o primeiro lugar na ordem cronológica, posto que o seu território começasse a ser explorado quando já existiam os dois curatos acima referidos. Eis o modo por que se descobriu e povoou esta região com o nome de Paraíba Nova, contraposto ao de Paraíba do Sul, já conhecida desde que Garcia Rodrigues Paes Leme fundou em 1863, uma capela privada em sua fazenda entre aquele rio e o Paraibuna. Segundo a narração de Pizarro em suas Memórias Históricas da Província do Rio de Janeiro, o coronel Simão da Cunha Gago, vendo-se por casos da fortuna obrigado a mudar sua residência da capitania de São Paulo para a de Minas Gerais, foi estabelecer-se no sítio denominado Lagoa da Aiuruoca, pertencente à capela de Nossa Senhora do Rosário. Aí de ajuste com outros, entrou no desígnio, bem que oculto, de pesquisar ouro e pedras preciosas; e, como lhe fosse preciso encobrir o intento, obteve licença do general D. Luiz de Mascarenhas, que governara São Paulo nos anos de 1739 a 1748, para entrar em conquista do gentio povoador dos sertões da sua vizinhança. Com essa faculdade, e, seguido de vários companheiros, rompeu afoitamente as matas, atravessou rios, e chegou, transpondo a Serra da Mantiqueira, até a margem esquerda da Paraíba Nova, em fins do ano de 1744, ou já no começo do seguinte. Avistando nesse lugar uma campina extensa e aprazível, resolveram aqueles sertanejos aí estabelecer o seu domicílio, erguendo as suas construções toscas e dando àquele sítio, onde fizeram também as suas primeiras culturas, o nome de “Campo Alegre”. Em companhia de Simão da Cunha e seus sócios viera também o padre Felipe Teixeira Pinto, que havia deixado o exercício de capelão da já dita capela da Senhora do Rosário da Aiuruoca, e projetaram construir uma casa decente onde aquele sacerdote lhes pudesse administrar os sacramentos, como o seu pároco primitivo, para o que recorreram ao Ordinário do Rio de Janeiro (Vigário Geral do Rio de Janeiro), do qual obtiveram provisão datada de 12 de maio de 1747, para uso de altar portátil, até que pudessem, em tempo oportuno, levantar uma igreja. Esse altar funcionou na própria casa do referido padre, e no mesmo sítio à margem esquerda do Paraíba até que por provisão daquela mesma data e sob o amparo da Conceição da Santa Virgem, erigiu-se a capela sobre outra eminência na margem oposta do rio, e quase em frente ao já mencionado Campo Alegre. Do livro: DO DESCOBRIMENTO DO CAMPO ALEGRE ATÉ A CRIAÇÃO DA VILA DE RESENDE. 2A EDIÇÃO – João de Azevedo Carneiro Maia.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

OS INDIOS PURIS - NOSSOS PRIMEIROS HABITANTES...

Os primeiros habitantes das proximidades de Resende, antes da chegada do homem branco, eram de baixa estatura, mas fortes e troncudos. Segundo Taunay Puri significava, em português, gente tímida e mansa. Seus cabelos eram lisos, as orelhas pequenas, o nariz largo, os olhos puxados. Eram nômades, vivendo da caça, pesca e uma agricultura primária. Tinham como costume limpar o terreno para o plantio através de queimadas, o que prejudicava a fertilidade do solo e os obrigavam a migrar de tempos em tempos, em busca de áreas virgens. A mandioca era muito utilizada pelos índios que descascavam e ralavam sua raiz com instrumentos feitos de espinhos e dentes de animais. De acordo co o folclore nacional, a lenda da mandioca era comum a várias tribos. Segundo a lenda, Mani tinha sido a índia mais bonita que já existiu, branca como o lírio. Os índios a respeitavam como um ser sobrenatural, acreditando ser um presente de Tupã. Um dia Mani ficou doente e morreu, sendo enterrada no jardim. De seu túmulo nasceu um arbusto e, a seguir, apareceu a raiz da mandioca que, segundo os índios, parecia o corpo de Mani. passaram a comer a raiz acreditando que isto lhes daria mais força para a luta, e passaram a chamar este alimento de manioca, que significa pão da terra ou carne de Mani. Os Puris viviam em constantes guerras com os Botocudos, que os expulsaram da Serra da Mantiqueira para o Vale do Paraíba, tendo se estabelecido num lugar denominado Minhocal, cerca de 30 Km de Campo Alegre. Como começassem a incomodar os primeiros moradores chegados com a bandeira de Simão da Cunha Gago, foi enviado o Sargento-Mor Joaquim Xavier Curado para resolver o problema. Houve cruentas lutas em que foram dizimados vários índios. Só um grupo, chefiado pelo cacique Mariquita, decidiu ficar no Minhocal, onde o Sargento-Mor ordenou que lhe fossem doadas terras. Criada a aldeia dos Puris em São Luiz Beltrão, depois São Vicente Férrer (atual Fumaça), esta prosperou entre 1778 e 1820, enquanto o padre Francisco Xavier de Toledo, grande protetor dos índios, dedicou-se à sua catequese. Com a sua morte os Puris ficaram desprotegidos e foram sendo aprisionados para trabalharem como escravos nas fazendas. As crianças eram batizadas com a observação: apanhadas no mato. Os Puris foram alvo de impiedoso e intencional extermínio, com o propósito de sua redução. Para tanto os conquistadores chegaram a disseminar entre eles, a varíola, co efeitos terríveis. Existiam aldeados em 1857, 133 índios entre mestiços e puros. O último descendente dos Puris, Victorino Santará faleceu em 1864. Referência Bibliográfica: Livro: Crônica dos Duzentos Anos – RESENDE 1801 –2001. ARDHIS Academia Resendense de História.